10.7.11

seja o outro

O QUE É O AMOR

Amar é permitir sempre. Amar é deixar que o outro vá — ou que fique, se assim o desejar. Amar é ter um respeito absoluto pela própria liberdade, e pela liberdade do outro. Amar é compreender sempre. E isso não significa apenas entendimento racional, vai além, muito além: Amar é reconhecer, afetuosamente, o direito que o outro tem de fazer suas escolhas. Mesmo que essas escolhas eventualmente me excluam.

Mas há uma enorme contradição entre amar a liberdade e ter ciúmes, ao mesmo tempo. Portanto, eu tive que optar — com veemência — quando me apaixonei por Sandra, uma bela menina de treze anos que havia decidido ter dois namorados. Eu era o outro... Eu era o terceiro naquela delicada relação erótica. Mas acabei concluindo que o que se passa entre dois seres humanos quaisquer, por mútuo consentimento e em nome do amor, não pode nem deve ser gerenciado por mim. Mesmo que eu ame profundamente um deles. Foi nessa época que aprendi a dividir bombons.

Eu tinha então só doze anos — e essa conclusão libertou-me para sempre.

Seja o outro (ou a outra) de vez em quando...
É uma delícia!



Vamos teorizar um pouco sobre a contradição entre ter ciúmes e amar a liberdade, simultaneamente. O ciúme, em si e por definição, é a negação da liberdade. Da liberdade alheia em primeiro lugar, e da própria liberdade, em seguida. É a prova mais cabal de que o ciumento não é livre para aceitar o outro como ele é. E o ciumento não é livre para aceitar o outro igualmente livre, posto que nega a este a liberdade que teria de fazer suas escolhas. Porém, negar a liberdade dessa forma e afirmá-la de outra, dizendo que a defende: eis o absurdo. Mesmo que o ciumento defenda apenas a sua própria liberdade e negue, explicitamente, a do outro (do parceiro, do marido, da esposa, da namorada, etc.), mesmo isso lhe causa um transtorno emocional significativo, pois ele nega ao outro aquilo que lhe parece muito bom para si mesmo. E se o ciumento ainda se colocar numa posição de afirmar que “ama” esse outro — que “ama” a pessoa a quem nega a própria liberdade — a contradição fica ainda mais evidente. Como posso amar alguém, e ao mesmo tempo negar-lhe uma coisa que reputo fundamental à própria vida?



Também a mim não quero que ninguém se ligue de forma dependente. Amar o outro é querê-lo muito, sim — mas querê-lo livre, antes. Não quero que o outro me tome por seu provedor exclusivo de orgasmos e alegria, segurança ou gostosura. Importa deixar claro que só posso ser um entre os seus múltiplos amores. Posso eventualmente até ser o maior, quem sabe — por uns tempos — mas repilo a ideia de ser único. Adoro ser terceiro em relações triangulares.