13.9.08

solitude

Jamais experimente a Liberdade se você não for capaz de suportar a Solidão.

Eu diferencio claramente solidão de solitude: esta é voluntária e corajosa; aquela nos é imposta pelo Medo. Solidão é carência. Solitude é suficiência. A solitude tem beleza e esplendor: por isso, positiva. A solidão é humilhante, escura e melancólica: portanto, negativa. A primeira é saudável; a outra, uma doença. Solitude é coisa do indivíduo. In-divíduo. Inteiro. Único. Indivisível. Porém, a solidão vive sempre em busca de caras metades. Sempre pede companhia, implora companhia. Mas só companhia certamente não resolve. Tanto, que existe solidão a dois e solidão a mais. Escrevi até um livro, cujo título é Solidão a mil — com o duplo louco sentido que o termo sugere.

Mas o tema é complexo, e eu fico pensando. Será que você, você que não entende como posso ter feito ontem um jantar só pra mim — com luz de vela e tudo — será que você nunca passou uma noite inteira lendo um livro, sublinhando palavras ao acaso, cotovelos apoiados na mesa, as mãos e um belo copo de vinho suportando a cabeça dançante? Será que você nunca passou uma noite inteira sozinho, deliciando-se com você mesmo, solto e alegre — sem saber nem como amanhecer?

Pois então é preciso que eu te pergunte: Você é livre para vivenciar gostosamente a própria Solidão — se quiser — ou tem sempre que reparti-la com alguém?


O direito à solidão e a capacidade de exercê-lo plenamente são, para mim, mais importantes do que a solidão em si. Entretanto, como já disse, quando falo em solidão eu me refiro, mais apropriadamente, à solitude — que é algo muito além do que apenas estar sozinho. Aliás, eu adoro companhia! Mas tem que ser companhia inteligente, libertária, excitante, criativa e, preferencialmente, sensual. Quem não tem sensualidade transbordante não inspira um segundo sequer do meu tempo.


FELICIDADE SOLITÁRIA
por Arthur Schopenhauer

"A solidão concede ao homem intelectualmente superior uma vantagem dupla: primeiro, a de estar só consigo mesmo; segundo, a de não estar com os outros. Esta última será altamente apreciada se pensarmos em quanta coerção, quantos estragos e até mesmo quanto perigo toda a convivência social traz consigo. "Todo o nosso mal provém de não podermos estar a sós", diz La Bruyère. A sociabilidade é uma das inclinações mais perigosas e perversas, pois põe-nos em contacto com seres cuja maioria é moralmente ruim e intelectualmente obtusa ou invertida. O insociável é alguém que não precisa deles.

Desse modo, ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já é uma grande felicidade, porque quase todo o sofrimento provém justamente da sociedade, e a tranquilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial da nossa felicidade, é ameaçada por ela e, portanto, não pode subsistir sem uma dose significativa de solidão. Os filósofos cínicos renunciavam a toda a posse para usufruir a felicidade conferida pela tranquilidade intelectual. Quem renunciar à sociedade com a mesma intenção terá escolhido o mais sábio dos caminhos."


SCHOPENHAUER, Arthur. in Aforismos para a Sabedoria de Vida




AO CONTRÁRIO do que faz Schopenhauer no texto acima, eu não generalizo. Acho as relações sociais extremamente importantes. Relações sociais ao vivo, e não apenas na internet. Aliás, como já disse várias vezes, eu adoro companhia humana! Mas tem que ser companhia inteligente, libertária, excitante, criativa e, preferencialmente, sensual. Em se tratando de relações amorosas, quem não tem sensualidade transbordante não inspira um segundo sequer do meu tempo.

Claro que nas relações de amizade sou muito mais condescendente. Tenho alguns amigos conservadores e até ciumentos — e não será por isso que me afastarei deles. Assim como nas relações profissionais ou comerciais: não seria possível exigir todas essas qualidades de um funcionário ou de um cliente. Mas procuro intensificar e aprofundar as relações que mantenho. Não gosto de relações superficiais, nem mesmo com garçons ou porteiros que me servem. Trato a todos com delicadeza e respeito. Aliás, ao contrário de muitos pseudo-religiosos por aí, eu trato as pessoas, todas, exatamente como Jesus nos recomendava: como se fôssemos irmãos. Trato o outro como eu gostaria de ser tratado. Trato a todos com amor. Compreensivamente.


Este é apenas um breve texto para o blog, ainda sendo refinado. Não tem pretensões de ser base para uma tese acadêmica. Embora eu pense realmente dessa forma, são devaneios, só. E o contraditório será bem vindo.