10.4.08

meu tio Benedito

Benedito Marques, um dos meus tios mais distantes, começou a ter autonomia financeira aos quinze anos. Com dezoito já tinha carro próprio e uma energia sexual devastadora. Bonito, saudável, simpático, charmoso e elegante. Inteligente. E com dinheiro no bolso. E com uma bundinha arrebitada que até hoje é famosa entre as mulheres. Portanto, tinha tudo para ser o que realmente foi: um conquistador maior do que Alexandre, o Grande.

Mas depois, numa das curvas da estrada da vida, lá nas Colinas de Golan, derrapou e foi convencido a se casar. Ou melhor, um casamento enorme caiu-lhe na cabeça como um cofre despencando do vigésimo quinto andar. E não havia mesmo como safar-se, em vista de circunstâncias que agora não me cabe analisar. Era o destino errando no cálculo, como se costumava dizer naquele tempo.

Casou-se — e foi um marido exemplar por vinte e cinco anos. Acontece que, para um tipo desses, amante da Liberdade, é impossível ser um marido exemplar por vinte e cinco anos — impunemente. É contraditório. Mas Benedito foi realmente um marido exemplar. Só não sabemos ainda a que custo. Ninguém pode dedicar-se por tanto tempo a um casamento só — e sair sem cicatrizes ou tristezas, traumas, hematomas...


E quando me ponho a escrever essas coisas sobre os meus tios, amigos, primos e irmãos, em vez de me agradecerem, em vez de entenderem as metáforas — e tomarem alguma decisão grandiosa enquanto é tempo — eles se calam, simplesmente. Ou comentam entre si, pelos cantos, aos cochichos: "o Edson tá ficando louco..."


Eu?!



Benedito Marques é o pseudônimo de um personagem de ficção. E talvez até exista de verdade — dependendo do nosso conceito de ficção, de pseudônimo, de personagem, de Benedito, de verdade e de Existência. Quanto ao casamento, apesar de ter escrito um "Manual da Separação", eu não acho que todos os casados devam separar-se. Só os que amam a liberdade — e cujos casamentos se tornaram opressivos.