22.2.08

meu pai

Meu pai nunca foi de bater, brigar, e em seguida dar um abraço e dizer que me amava, que era o melhor pai do mundo, que só queria o meu bem, essas bobagens todas. Sou-lhe grato por ter sido afirmativo, mesmo nos atos de violência. Não era hipócrita em circunstância alguma. Mesmo quando teve amantes, tudo foi às claras. Deixava para mim a exclusiva decisão de julgar se ele era ou não convincente. Nunca me tentou impor seus preconceitos, nem me convencer de que ele era um bom pai. Tinha dificuldades em demonstrar amor.

Queria apenas que eu fosse diferente de todos, inclusive dele.
Sempre achou que eu era predestinado — a quê, não sei. Nos meus aniversários, ele sempre me dava como presente assinaturas de jornais, às vezes rádios bonitos, enciclopédias, livros, essas coisas. Meu pai nunca me mandou ir à missa, mas se eu não fosse à escola apanhava de cinta.

Órfão desde cedo, foi jogador, comerciante, alcoólatra, racional em demasia e delegado de polícia — não necessariamente nesta ordem. Porém, sempre foi respeitável e honesto. No dia em que mudei-me para São Paulo ele chorou escondido. E morreu do coração aos 49. Às vezes sinto saudades dele...