10.10.15

aurelio

Aurélio, 89.

Ele é dono de um botequinho na altura do 500 de uma rua perdida da cidade onde estou hoje. Vim para uma festa, um almoço cheio de gente no qual nada comi nem bebi. Fiquei meia hora, conversei com meia dúzia, e saí andando a pé, desbravando as redondezas, sem camisa, tomando sol, ao deus-dará. Três da tarde. Vejo um balcãozinho humilde com doces de abóbora. Entrei. Nenhum cliente. Seo Aurélio almoçando sentadinho numa cadeira de plástico com o pratinho no colo. Era um prato de sobremesa com um pouquinho de baião-de-dois e uma lasquinha de carne. Sempre come pouco, justificou. E nunca toma remédio. Só usa óleo de girassol. Para tudo: temperar salada ou passar nas pernas, tanto faz. Não tem reumatismo nem stress. Assim como eu, só vai morrer depois dos 120. É uma figura, o Seo Aurélio... Conversamos por mais de hora e meia, trocando emoções e respeito. Merece uma história. Uma história de amor.