15.2.13

sou

Sou o autor da minha peça e o próprio personagem. A dança e o bailarino, a música, o regente, o compositor. A ternura mais vermelha e delicada, o lóbulo da orelha do meu amor. O beijo e o orgasmo, a delícia e o licor; o êxtase e todas as auroras que ainda vão chegar. Sou o céu estrelado, a língua do horizonte — e mais além. Sou sagrado e sou profano, o profundo e o supérfluo, a origem da tragédia, o brilho e o pó. Sou mínimo e tanto, sou pouco em princípio, paixão em excesso, glória e desejo. Sou infinito no meu coração, e a última labareda de uma espécie de fogo em extinção.
(...)
Este texto é longo, e continua para muito além daqui. O original completo estava no meu livro Solidão a Mil, primeira edição, volume 1, de 1998. Excluí das edições posteriores.