15.12.12

falsa surda

Minha bisavó Vitalina às vezes se fazia de surda — para defender-se das besteiras que toda família acaba proferindo, diariamente. Quando alguém lhe falava coisas que não lhe pareciam importantes, ela continuava com seu cigarrinho de palha, olhando para o nada. Então, sorria pra mim, dava uma piscadinha sarcástica e, mais tarde, quando estávamos só nós dois, ela me explicava sobre tudo o que tinha ouvido, mas fingira que não. Um dia ela me disse que, para sobreviver com decência, eu deveria ter duas qualidades: pensar rápido e enganar autoridades. Tive que aprender.