7.12.12

cartilha

Meu livro nada mais é que uma cartilha, que pretende ajudar quem já é livre a ter sucesso. Mas um sucesso relativo, é bom dizer. Porque eu o ajudo a libertar-se ainda mais. Faço com que ame a liberdade acima de todas as coisas. Se for corajoso, salta comigo — e dançamos juntos no espaço infinito que criamos ao saltar. Mas, se não for tão corajoso, se já estiver abraçado com firmeza ao poste enorme das crenças insensatas, pelo menos fica sabendo que na hora certa não se salta: tem que ser na hora incerta. E não importa a idade que tenha: acaba sabendo quanto tempo de vida já perdeu — e que ainda pode saltar antes que morra. O exemplo é meu bisavô, que só saltou aos 62 anos de idade. Mas se o leitor é do tipo que não salta de jeito nenhum, que prefere até morrer antes mesmo de morrer, tudo bem: dou-lhe uma dose mortal de compreensão. Como se vê, meu livro é uma cartilha... Mas só serve pra quem já sabe ler.

Por falar em meu bisavô, ele gastou janeiro fazendo planos, um mês inteiro ouvindo vozes, que nem Moisés. E aquela menina passando ali, na frente dele, feito convite, descalça, vestidinho de chita, cabelos soltos negros, meio ressabiada... Então o fazendeiro corajoso abandonou tudo: as propriedades e as impropriedades que a elas sempre se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, as fazendas, as noras, os netinhos, os novilhos e as velhas emoções (...) Continua.