5.11.12

cascas

Para sermos felizes, devemos antes nos descascar. Necessariamente. Devemos nos livrar das cascas como se nos livrássemos de uma lepra. Todos nós nascemos sem cascas. As crianças, recém-nascidas e até certa idade, são todas puras, limpas, inocentes. Mas os pais e as mães (medrosos, incultos, e quase sempre despreparados) vão cobrindo-as de cascas. Depois, os professores, a polícia e os patrões (e os namorados ciumentos) completam a cobertura com mais cascas. Muitas cascas. Enormes. Grosseiras. E o que complica extremamente a nossa situação é que, mais tarde, nós mesmos, por erro, passamos a acreditar que tais cascas nos são naturais — e até indispensáveis. E acabamos nos cobrindo com mais algumas, escolhidas ao acaso. Mal sabemos que essas cascas não nos protegem, mas sim nos aprisionam. E quando descobrimos afinal que fomos enganados, geralmente é tarde demais.

Cascas, ou máscaras. Ou neurose freudiana. Grosso modo, são as mesmas coisas. Caso esse tema te interesse, faça uma pesquisa. Sugiro o livro Análise do Caráter, do Reich. Ou comece lendo isto. Claro que as cascas, as máscaras, as couraças, as neuroses — tudo são "soluções" de sobrevivência. Soluções que não privilegiam nem o amor, nem o prazer, nem a liberdade. Nem a vida. Mas esta é outra história.