3.10.12

sagrada malicia

Sou tão compreensivo, tão bonzinho, que às vezes chego a mentir que não sou tanto, apenas para não sufocar o outro com excesso de bondade. Sou tão alegre, tão feliz, tão satisfeito — que às vezes dissimulo, para que o outro não suponha que sou privilegiado. Para que ele nem perceba que toda a Felicidade do mundo pousou em mim, e habita como deusa deslumbrada o meu próprio coração. Tão puro, que sou obrigado a comprar todo dia um pacotinho de malícia consagrada, só para ficar um pouquinho mais profano. Sou tão inocente, mas tão inocente, que se eu contasse tudo, quase ninguém acreditaria. Às vezes, nem eu mesmo consigo acreditar.