11.10.12

filho do big bang

Naqueles tempos, Ele era Um dentre muitos pregadores. Mas se destacou pelo estilo. Pela criatividade. Garantia ser filho direto do Criador do Big-Bang. Suas propostas eram radiciais. Dizia ser impossível servir a dois senhores ao mesmo tempo. Olhai as aves do céu: não colhem nem armazenam. Olhai os lírios do campo, que não tecem nem fiam, e o Senhor tudo lhes provê. Eu não vim trazer a paz, eu vim trazer a guerra. Gananciosos não merecem conhecer o céu. Deus está lá, onde está o teu coração. Ele falava coisas assim, meio malucas... Ele adorava metáforas e parábolas. Expulsou negociantes do templo. Esqueceu que era filho de um pobre marceneiro e de uma dona de casa. Os irmãos o detestavam. Transformou água em vinho branco. Beijava Madalena em público. Ouvia vozes. Fazia milagres. Mais fácil um camelo passar por não sei onde. Nunca escreveu nada: suas palavras eram jogadas ao vento. Só quem tem ouvidos que as ouça. Ficava insultando meio mundo. Um dia o levaram ao topo da montanha e quase o jogaram precipício abaixo... Eu gosto desse cara. Fora as idéias de grandeza, era um bom sujeito. Acho até que vou convidá-lo para sentar-se aqui — ao meu lado direito.