5.9.12

jejum de 110 horas

Eu gosto muito de testar os meus limites. Os do corpo e os do espírito. Os limites do meu espírito eu não sei onde eles ficam. Quando suponho que vou ultrapassá-los, eles se deslocam mais pra frente. Parece que nunca os ultrapassarei. Já os limites do meu corpo variam com o tempo. E com os testes. Já não consigo subir a quinta cachoeira de São Francisco, contra a correnteza e a força das águas. Tenho que aceitar esse fato. Já não consigo subir dezessete andares correndo, sem morrer de cansaço na metade do caminho. Tenho que aceitar esse fato. Já não consigo passar duas noites sem dormir, pois no começo da segunda já estou caindo de sono. Mas há outros testes interessantes a que me submeto — só pra ver onde chego. Por exemplo: já fiquei cinco anos sem tomar cerveja, já fiquei 180 dias sem tomar vinho. E já fiquei trinta dias sem sexo. Mas, e sem comer — quantos dias eu seria capaz de ficar? Então, após o jantar da última sexta-feira, decidi fazer um jejum por tempo indeterminado, só tomando água. Passei sábado e domingo assim: só com água. Tudo correu às mil maravilhas. Na segunda-feira de manhã, passadas quase sessenta horas de jejum, tomei um chá de laranja com cravo e pimenta, adoçado com açúcar. E continuei tomando água o dia todo. Na terça-feira, ali pelas dez horas da manhã, tomei um litro de leite Fazenda, tipo A — no gargalo. E passei o resto do dia sem comer mais nada. E hoje, quarta-feira, por volta do meio-dia, senti que me faltava alguma coisa, provavelmente o sódio. Não era fome: esta eu consegui vencer. Então, transcorridas 110 horas de jejum, comi meio pratinho de arroz com feijão e um bife. O que eu posso concluir disso tudo? Não sei ainda.