12.8.12

meu pai

Ele nunca nos disse que gostava de poesia, mas certa vez mandou que plantassem trezentos e sessenta pés de girassol no fundo do quintal da nossa casa. Depois que as plantas cresceram, ele ficava toda tarde um tempão lá no fundo, sentado num banquinho improvisado de madeira, sorrindo, encantado, tomando vinho — e olhando os girassóis girarem... Meu pai, portanto — no fundo — talvez não fosse apenas um comerciante atarracado e ex-delegado de polícia. Talvez fosse um poeta. Pena que não tenha tido tempo de viver a vida: morreu aos 49. Nunca ofendeu a minha Mãe, mas descuidou-se, e teve mais filhos do que amantes — o que torna o homem triste. Contraditoriamente, seu coração era enorme. Exagerado, tinha seus belos momentos de loucura: de vez em quando fazia almoços festivos para crianças pobres. Era comum se reunirem duzentas ou mais em nosso restaurante. Absteve-se do jogo, não fumava, mas bebia um pouco. Com duas exceções, nunca o vi de fogo. Mas morreu muito. Morreu jovem. Morreu demais.

Algumas recomendações que ele me dava, reiteradamente:

1. Respeite a tua Mãe.
2. Não carregue pacotes.
3. Não economize na comida.
4. Seja dono do teu próprio negócio.
5. Beba pouco.
6. Estude bastante.
7. Não fume.
8. Não transe com as empregadas.
9. E não minta — exceto se for para salvar a vida.

Ele gostava muito de girassóis, de vinho com coca-cola e de Robert Louis Stevenson. Sempre relia A Ilha do Tesouro. Mas ainda lhe devo a última folha, que o meu livro não tinha. Qualquer dia desses vou levá-la ao seu túmulo. E lê-la para ele — em voz alta. Tomando vinho...