9.6.12

licao de vida

Às vezes é preciso falar de mim. Não para vanglórias bobinhas, mas em defesa de Sócrates. Não para mostrar-me, mas para descobrir-me. Para criar parábolas. O texto abaixo, em princípio, tem apenas um propósito: defender o Espírito Livre e abraçar um perdão. É dirigido a uma pessoa específica, que um dia já me amou, a seu modo, mas que agora só me quer "corrigir".

Eu já fui ao teatro centenas de vezes. Você foi quantas? Eu já assisti a mais de quatro mil filmes em cinemas do Brasil e do exterior. Você já assistiu a quantos? Eu já li (de cabo a rabo) mais de dois mil livros. Você já leu quantos? Eu já tive mais de mil e quinhentos amores diferentes, quase todos escandalosamente livres. Você já teve quantos, livres? Eu não perco a calma há mais de vinte anos. Há quantas horas você não perde a tua? Eu respeito profundamente as palavras de Jesus, especialmente quanto aos lírios do campo e aos pássaros do céu. E você, as respeita também, de verdade? Eu não me apego a rigorosamente nada, e você só pensa em aumentar teu patrimônio. Eu danço com a vida, você se agarra a ela. Eu vivo sorrindo, você é triste demais. Aliás, é bom nem continuarmos falando em público sobre esse assunto. Só quero manifestar aqui o meu espanto, a minha perplexidade enorme ao saber que você disse à minha Mãe que agora pretende dar-me uma "lição de vida". Sinceramente, meu irmão, não me parece que você está em condições de dar lição alguma a quem quer que seja. Cuide das tuas crias, que é melhor.

O fato de eu ser primogênito, aliado às descobertas de Freud sobre os fundamentos da inveja, explicam muita coisa. Mas eu o compreendo. Ninguém vai além dos seus limites.