16.5.12

um cachorro chamado fuba

Conheci ontem um menino, adolescente, que já faz planos para sua vida futura. Disse-me que vai se casar com vinte anos de idade, com uma mulher lindíssima, morar numa casinha de campo, ter treze filhos maravilhosos, e um cachorro chamado Fubá. E ainda quer mais duas coisas: ser arquiteto — e ser feliz. Então eu fico aqui, imaginando o quadro. A cena. O chiqueirinho dos porcos, a criação dos coelhos, a hortinha de verduras, os pepinos e os tomates. O ambiente bucólico, os treze fedelhos correndo no quintal, a mulher mexendo panelas no fogãozinho de lenha, as roupas penduradas no varal, e o Fubá dormindo na soleira da porta. Tudo na santa paz. Mas um dia vai dar pau. Pois a escola vai ser longe, as crianças terão dor de dente, vai aparecer uma goteira, as fraldas sujas vão se acumular no quartinho, a mulher linda vai ficar descabelada, a conta de luz vai vencer, e o querosene, acabar. Uma tragédia... Contudo, jamais tentarei demovê-lo dessa ideia maluca. Afinal, milagres acontecem — e Toninho pode até sentir-se feliz no meio dessa balbúrdia. O difícil é que todos os dezesseis personagens dessa história (além dos porquinhos e dos coelhos) se sintam felizes, simultaneamente. É provável que esse sonho do menino, do jeito que está sendo sonhado, vire um pesadelo. E é claro que a felicidade e o curso de arquitetura vão acabar ficando para mais tarde. Bem mais tarde. A menos que Deus intervenha, e convoque um batalhão de anjos para socorrer o Toninho.