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meu verbo

Minha palavra não tem limites: nem mesmo as regras da gramática me impedem de dizer as verdades que questiono. Não há juízo de valor no meu peito enluarado, não há teias de aranha nos meus braços estendidos. Minhas mãos sonharam, e meus corações também. Estas coisas que agora digo são feitas de sonho. Eu me escrevo como se me lesse, delicante, entre flores e ternuras. Sou o feitor absoluto das palavras que me criam e do modo como são lidas. Porém, e felizmente, as melhores leituras que de mim se fazem são as dos teus olhos excitados quando me (des) cobrem de espanto.

29.4.11

Van Gogh - Louco ou Gênio


O nome dele era Van Gogh. Dizem que ficou louco — mas era só um gênio fazendo história.

Embora seja insuportável para quem já perdeu a lucidez, a Loucura é a única salvação. Por isso recomendo aos "normais ainda saudáveis" que procurem o caminho poético da Loucura gostosa. Claro que não me refiro à loucura inconsciente, a transtorno bipolar, esquizofrenia, psicose, ou algo semelhante. Eu me refiro à loucura criativa de Osho, de Dali, de Cioran. Eu me refiro à loucura brilhante de Nietzsche, de Jesus e de Artaud; à loucura sagrada de Van Gogh, Henry Miller, de Picasso e Vitalina. Eu me refiro à loucura que está ali — aqui — a quase 360 graus da sanidade. Eu me refiro à fuga da escuridão chamada Norma. À quebra radical de todas as correntes opressoras. Ao abandono puro e simples do rebanho. Eu me refiro à loucura luminosa dos criadores de mundos. À loucura dos amantes da liberdade absoluta. Esta, a loucura que (me) (te) (nos) encanta...

historia de amor

Nossa primeira professorinha já nos ensinava que toda história tem que ter começo, meio e fim. Então, por que todo esse espanto ao perceber que também a nossa história — nossa história de amor — terá começo, meio... e fim?

Para melhor entender o texto de hoje, valeria ler este: Se eu já te amasse tudo deixaria agora mesmo de te amar o resto, meu amor. No dia em que atingirmos o pico, nosso amor se completa. Por isso, quando a hora chegar, te deixarei voando... /// Continua.

28.4.11

amar

Amar é permitir sempre.
Amar é deixar que o outro vá
ou que fique, se assim o desejar.
Amar é ter um respeito absoluto
pela própria liberdade
e pela liberdade do outro.
Amar é compreender sempre.
E isso não significa apenas
entendimento racional,
vai além, muito além:
amar é reconhecer
afetuosamente
o direito que o outro tem
de fazer suas escolhas.


Mesmo que essas escolhas eventualmente me excluam.

27.4.11

o artista e o poeta

O poeta, o artista, o filósofo; o aventureiro, o amante, o palhaço — eu e você — nossa função é subir à tona, saltar barreiras, desbravar caminhos, quebrar os ícones da hipocrisia, defender a Liberdade, amar demais, criar conceitos, mudar o mundo, viver à mil. O poeta, o artista, o pintor; o maluco, o ator; o cientista, o anarquista; o escritor, o libertário; todos os que já deixamos o rebanho e saltamos profundo — nós somos a vanguarda da História. Vivemos arriscando a própria Vida, só para salvá-la. Todo dia.

dois lados

Porque eu também tenho dois lados no meu interior: o que diz tudo, e o que esconde algumas coisas; o que é livre, e o que é bobo. Na verdade, sou uma arena psicológica em que um gladiador derruba leões de mil faces. Meu superego é desesperadamente forte, e às vezes me segura nos momentos poéticos que antecedem saltos cruciais. Fico em dúvida, certos dias, entre o sossego e a glória.

jogo de cena

Depois de acender estrelas no teu céu da boca, depois de vasculhar os teus encantos, depois de dançar nos teus mistérios, depois de ultrapassar os teus limites — acabei concluindo que só a união de duas grandes espontaneidades pode gerar, e manter, por algum tempo, um belo caso de amor. O resto, o resto é jogo de cena, simplesmente.

25.4.11

clitoral


Foi nesta paisagem que escrevi o texto de hoje.
Como se pode notar, eu não moro no Litoral.
Eu moro no Clitoral.

Guarujá

Sento-me aqui, ao lado do Oceano Atlântico — e fico pensando na vida. Olhando este mar azul do Guarujá, e ouvindo a Barcarolle de Offenbach. Dois ou três cacos de céu no meu caminho, dois pedaços de silêncio onde se ampara a minha voz. Tomo outro gole de vinho branco logo no primeiro quiosque, e vejo que meu corpo tem muitos sentidos e muitas razões. Talvez por isso é que eu preciso de metáforas lógicas para dizer-me todo.
Não sei para onde vou hoje.
Talvez fique aqui mesmo, fazendo nada como se fizesse tudo — ou vice-versa. Talvez escreva um poema de amor praquela menina de azul, ali; talvez termine aquele ensaio sobre Jesus que comecei ontem. Talvez desenhe um outro projeto louco para uma parede nova, ou talvez volte simplesmente a ler Montaigne...

Não sei.


Só sei que o Mundo tem paredes e muros, mas também tem portas e janelas. E as portas estão completamente escancaradas para nós!





Ouça a Barcarolle de Offenbach.

menina vestida de chita

Às vezes, não me basta uma deusa perfumada com Fleurs de Rocaille, vestido de seda, anéis de brilhante, pulseiras de ouro, pós-graduada na USP, discutindo Heidegger. Às vezes, eu quero mesmo é essa menina descalça, queimadinha de sol, vestida de chita, deitada e sorrindo no meu colo, tomando água de coco num canudinho cor de laranja, delicadamente, e olhando crepúsculos à beira do mar. Uma menina que me compreenda as loucuras, que adore esse meu inocente amor desgovernado — e que me ame por uns tempos. Mas que não me ame muito nem demais... E que depois desapareça, deliciosa, com a mesma alegria e gostosura com que veio.

23.4.11

meus olhos riem

Acontece que meu cérebro às vezes ri das escolhas que meus olhos fazem. Mas ambos logo se pacificam e eu prossigo cavalgando propósitos — de ponta-cabeça — como se a Vida fosse uma potranquinha, puro-sangue, indomável, cor de vinho. Faço analogias em silêncio, invento coisas que ainda vão existir, crio conceitos, e me questiono sobre tudo e todas as coisas. Depois, destruo minhas próprias convicções como estivesse destruindo as tuas.

opções

Hoje você tem várias opções.
Uma delas é continuar aqui, pensando na vida.
Outra é largar tudo agora mesmo, e sair correndo para encontrar um grande amor.

22.4.11

respeito deus

Eu sempre falo de Deus com o mesmo respeito com que falo de Mim.


Um pescador louco, um camponês, um sapateiro, uma prostituta. Dizem que esses foram os primeiros que entenderam Jesus. Pedro jogou a rede, e sequer a recolheu... Por que você não segue o teu próprio coração — assim como Pedro seguiu Jesus?


Aos seis anos de idade Jesus foi buscar água no Rio da Prata e quebrou a moringa. Teve que trazer a água num saco de pano que fez com a própria camisa. Maria nem se espantou. Mas o primeiro milagre público foi feito a pedido da Mãe, numa festa, quando Ele transformou água em vinho. Podia ter sido em suco de laranja, ou até mesmo em leite, mas isso não demonstraria bom gosto. Tinha que ser um cabernet sauvignon!


Quando José morreu, deixando Maria com um punhado de crianças, Jesus, primogênito, teria que assumir a marcenaria. Porém, entre ser microempresário ou transformar-se em Deus, não teve dúvidas: saiu de casa — e botou o pé na estrada. Foi cumprir o seu destino genial. Foi criar histórias para Tomé escrever um livro. O resto vocês já sabem.

tocar o intocavel

A mim não me basta tocar o coração do que eu vejo, eu quero é tocar o coração do invisível. A mim não me basta buscar o que me cabe, eu quero é desejar o impossível. Tocar o intocável, o intangível, o centro do que se move, a alma do meu espírito, o coração do coração do amor do meu amor.

flores e deus

Deus só derrama flores nas cabeças abertas.
Não feche a tua.

coivaras

Eu não apenas vivo as minhas relações, eu também as penso. Eu me questiono sobre elas, a partir de dentro delas mesmas, embrenhado nas suas tramas e coivaras, nos seus mistérios e caminhos. Nas suas gostosuras. Nas suas contradições. Depois me esclareço com suas luzes, com seus fogos e sinais. Mas só as compreendo ao superá-las.

19.4.11

o que eu sinto

Culpa, medo, ódio, vergonha, ciúme ou rancor: eu não sinto nada disso.
— Eu só sinto Amor.


E você?

joyce ann

Pedi-lhe então que se deitasse no chão da sala onde havíamos dançado, apaguei as luzes, esqueci dos presentes e dos ausentes — e armei-me da inocência mais profunda que fui buscar dentro de mim. Levantei um pouco a blusinha azul que ela vestia, passei creme em sua barriguinha suspirante e mais ainda em minhas mãos. Deslizei meus dedos por toda aquela geografia escandalosa, inundei de branco e de pureza o seu umbigo... Depois, fiz mira no coraçãozinho dela, e atirei poesias a esmo, como se fosse um arqueiro zen enlouquecido de amor.

18.4.11

morra

Eu quero que você morra!

Esse é hoje o meu desejo mais sincero. Eu realmente quero que você morra. Mas que essa tua morte seja apenas a do teu modo errado de viver. Que morra só esse teu lado emocionalmente fraco, tedioso, triste, cambaleante. Que você morra como Jesus morreu: metaforicamente.

Crucifique teus anseios bobos, desfaça-se do que não presta, desmonte as relações que te oprimem, abandone agora mesmo essa vidinha inexpressiva. Dê um belo salto profundo. Morra. Mas morra com um só e claro objetivo: ressuscitar gloriosamente logo mais. Nem precisa esperar três ou quatro dias, nem precisa ser parente do José de Arimatéia.

Lembre-se: até Jesus teve que "morrer" um dia para subir aos Céus... Mas não caia na besteira de morrer de verdade, nem de morrer aos poucos. Morra muito e morra logo. E que essa tua morte seja só a morte do teu modo errado de viver.

Eu quero que você viva!

galopando

Um dia eu vi que aquele nosso amor estava (se) (me) (lhe) (nos) cansando. Então, olhei direto nos olhos dela e lhe disse, delicado:
— Não posso mais condicionar o meu galope ao teu trote, meu amor...
E saí.
Galopando.

17.4.11

meus avessos

“A esperança é um sonho que caminha”, disse Aristóteles. Mas nem sei por que me lembro disso agora. Só espero que você perca o medo antes de perder a esperança. Espero que você mostre o avesso da Pandora ao avesso da caixa, e o avesso de si a si mesmo. Que não se contenha em mostrar só o Continente, mostre também o Conteúdo — oceânico. Faça como eu, que abro-me, que mostro meus avessos, entranhas coloridas e inteiras, exponho-me como doces invertidos num balcão de sacrifícios. Então, meu interior se agita, cria coragem e resolve mostrar seus próprios avessos. As conhecidas entranhas se reviram gloriosas e se abrem para dentro. Descubro que minha parte mais profunda é o contrário dos meus avessos, e que o lado de dentro do meu lado de fora é a fantasia louca que de amor me veste.

Sou um cãozinho Zen


Sou só um cãozinho cínico e alegre, um vira-lata zen: vivo à luz da lua, ao deus-dará. Não tenho nada. Passo fome, tomo chuva, tomo sol. Se me agradam, abano o rabo e faço festa. Mas, se me batem ou me ofendem, fujo de mansinho...

E não quero ter dono nunca.

15.4.11

amor eterno

Exigir do Amor que seja eterno é traí-lo já no início.

A memória de um Amor brilhante é muito melhor do que o risco de vê-lo morto, estrebuchando no meio da relação. Portanto, respeitem o seu próprio coração: Separem-se no pico!

O Amor é uma curva.
Depois do Pico não existe mais nada.
Lembrem-se: Só a perda abre caminho para o Novo.
E o Novo é fascinante...

verdades e mentiras

A longo prazo, falar a verdade custa bem menos do que mentir. A energia que você gasta defendendo até mesmo aquelas verdades um pouco mais doloridas, chocando eventualmente alguns espíritos despreparados para o sublime, e suportando as conseqüências que podem ser graves, essa energia acaba sendo muito menor do que aquela de você gastaria para suportar, nos dois principais sentidos, uma relação morna e desgastante, baseada na mentira e na dissimulação — e por isso mesmo quase sempre insuportável. Sei que às vezes você, de alguma forma, quer manter uma relação qualquer, que parece importante, e precisa mentir para que ela não se quebre. Tudo bem que assim seja. Mas, é preciso questionar sempre: até que ponto vale a pena manter uma relação que não permite livremente a existência da verdade.

14.4.11

ultimo bem

Se eu tiver que um dia me desfazer de todos os meus bens, a Liberdade será o ultimo deles! Mas o que são esses meus bens — você pode perguntar. Casa, carros, talheres e fogões? Claro que não! Os meus bens são todos intangíveis... Essas coisas que eu uso, materiais, ou já são do Banco do Brasil ou serão dos meus herdeiros... rs!


O verdadeiro desapego é aquele que temos pelas coisas externas e pelas internas. O verdadeiro desapego tem que acontecer por dentro da gente: vamos deixando de precisar daquilo que já estava no interior de nós mesmos. Porque desapegar-se só das coisas que estão fora (embora muita gente não consiga) é muito fácil.

Houve um tempo em que eu precisava de uma casa enorme para guardar tudo aquilo que eu imaginava indispensável. Depois, as coisas que supunha muito importantes para mim cabiam numa sala pequena. Mais tarde, essas coisas "extremamente importantes" passaram a caber num armário de tamanho médio no quarto do fundo. Bem depois, coloquei tudo aquilo que ainda considerava “muito importante” no porta-malas de um carro conversível — e saí pelo mundo. Andei, tomei sol e chuva, ar e vento, brisas e tormentas, amei com a liberdade mais absoluta — e fui me despojando ainda mais. Tanto, que agora, cheio de amor e dúvida, vejo que todas as coisas verdadeiramente importantes para mim, hoje, cabem dentro de uma calça jeans e de uma camiseta branca de algodão gostoso que estou usando. Não preciso nem de sapatos!


Nós temos que nos desapegar até mesmo dos nossos amores.

vibora

Toda musa traz uma víbora dentro de si. É só uma questão de tempo. Essa frase eu a escrevi em 1995, nos tempos de Suzana e Patrícia. Agora vejo que exagerei. Em verdade, a musa não traz a víbora dentro de si: nós é que a colocamos dentro dela. Mas nem todas as musas são assim: só aquelas com as quais casamos... Só aquelas que não as deixamos no pico. Musas devem ser deixadas no pico, sempre. Trazê-las para o cotidiano é um desperdício. Transformá-las em esposas é um crime.

Na mitologia grega as musas eram nove. Na minha mitologia, também. Ao homem comum basta uma musa — mas o poeta precisa das nove. No mínimo. Simultaneamente.



A propósito dessas duas musas citadas:

Enquanto Patrícia oferecia-me a morte em bandejas de prata, Suzana dava-me a vida na palma da mão. Patrícia era uma espécie de Fedra sensualíssima, e Suzana, uma pequenina e doce Ariadne. A primeira queria enforcar-me com cordinhas de seda; a segunda deu-me os fios do amor com que me salvei do labirinto. As duas diziam me amar... Mas a primeira me queria boi, e a segunda — Minotauro.
Com qual delas você acha que eu fiquei?


(...)
Patrícia queria certezas; Suzana me jogava no abismo.
Patrícia significava segurança, estabilidade.
Mas Suzana quer dizer Aventura!

Durou quase dois anos esse nosso delicioso triângulo de vertigens. E foi só quando chegamos ao pico é que tive de optar com veemência. Porque, de Patrícia, eu tinha que me salvar correndo, para enfim poder viver. E de Suzana, eu só queria ter belíssimas lembranças...
Além disso, ambas também precisavam salvar-se de mim.
Então, saltei.
De cabeça, no coração da Vida.

13.4.11

Lanhouses

Estou criando um projeto para transformar as atuais lanhouses em Centros de Capacitação Educacional, mediante Controle de tempos de uso em cada estação. Será uma forma de dar acesso gratuito a todas as pessoas, especialmente dos bairros periféricos, desde que parte do tempo seja usado em programas educacionais. Teremos desde testes de português até noções de geografia. Dede o ensino da tão desprezada tabuada, regras de três e logaritmos, até breves aulas de química geral. História, Filosofia, Inglês, Espanhol, noções de higiene, visitas a museus, etc. Tudo isso gerará "créditos" em horas para que se possa então usar o computador (gratuitamente) para simples "recreação": facebook, jogos, etc. /// O que você acha disso?


Esta é uma ideia que tive em 2001, no Guarujá, quando vi um menino pobre contando moedinhas para pagar 15 minutos de acesso numa lanhouse...

fiel e livre

Sou fiel. Mas meu coração tem uma porta chamada Liberdade. Procuro mantê-la aberta todos os dias. Escancarada! Só pra ventilar a relação...

12.4.11

deusescravos

Até hoje as pessoas criaram deuses para submeterem-se a eles.
— Eu os crio para serem meus escravos.

crimes

Não é na periferia, mas é no centro do meu próprio corpo onde acontecem os meus melhores crimes — os mais delicados. Aqueles cometidos por meu louco coração. Eu transgrido dançando. Minha inocência não tem limites.

11.4.11

circo versus matadouro

A vida é um circo. Mas do lado de cá, temos um palco; do outro lado, um matadouro. No matadouro, as pessoas sérias representam. No palco, só tem palhaço. Os sérios são geralmente os "responsáveis", e formam um rebanho: mansos que caminham tristemente em direção ao nada. E riem dos palhaços. Estes, por sua vez, são inconsequentes, e riem da seriedade. Mas com uma diferença fundamental: além de rir dos sérios, os palhaços riem de si mesmos — e este é o ponto. Quem consegue rir de si, se salva. Quem só ri do outro, se perde, em todos os sentidos. Nos palcos e nos matadouros da vida, todos representam: os sérios e os palhaços — mas só os palhaços têm consciência disso.

Todos nascemos para a Arte, para o inocente jogo da Vida, para o lúdico, para o puro e o sorridente. Alguns permanecem no palco — e se transformam em artistas, atores, cantores, poetas, bailarinos, amantes, loucos: todos palhaços. Outros, convencidos à força pelos pais, pelos padres, pastores, professores e patrões — e, quando não, pela polícia — ficam sérios, perdem a graça e o brilho. E logo são encaminhados ao matadouro. Alguns, entretanto, retornam ao palco, depois de perceber que foram iludidos na origem: não lhes agradam os grilhões da seriedade: suas almas de palhaço ainda estavam intactas, por sorte.

Porque assim que você sai do ovo, algemas claras prateadas lhe são postas nos braços. Grilhões de seriedade nas canelas. Se você não reagir a tempo, teremos uma deusa enclausurada. Ou um pequeno deus encarcerado. E eu fico pensando: Qual será o perverso mecanismo que transforma esse Jesus num chefe de escritório? Que maldição faz da musa uma dona de casa? Quais são os fatores horrorosos que acabam levando um pequeno Buda em direção ao matadouro? O que é que, na maioria das vezes, arrasta um ser humano iluminado, e o joga no rodamoinho da desgraça cotidiana — e lhe apaga a luz?

10.4.11

jamais contarei

Essas coisas todas eu as escrevi nos últimos quatro anos. Aquilo que escrevi antes, vocês lerão depois. Mas aquilo que escreverei a partir de agora — vocês nunca vão ler! Contarei as coisas mais deliciosamente graves que já vivi. As coisas mais poéticas, profundas, delirantes, audaciosas, sensuais. Minha profissão, vocês sabem, é perigosa:
Sou amante da Vida!

rebelde2

Nunca é cedo demais para tornar-se um rebelde.

9.4.11

Meu Rebelde preferido

Nunca é tarde demais para tornar-se um rebelde.

(...)
Então o respeitável senhor Luiz Marques, meu bisavô, tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu! Pois ele já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos. Pensou bastante, montou um plano de vida, e virou rebelde. Não fosse por isso, eu não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho branco e contando essas coisas pra você.

Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores. E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas..


paulo coelho


PAULO COELHO E OS PLÁGIOS QUE COMETEU EM VÁRIAS PUBLICAÇÕES DO POEMA MUDE






Se isso não for PLÁGIO, temos que redefinir esse conceito...










Esta frase é minha!

Significa que as 26.000 pessoas que curtiram e as 1780 que comentaram foram iludidas,
e precisam ser informadas da verdade: essa frase não é de Paulo Coelho!

Isso sem contarmos os milhões que leram sem se manifestar!


E no Twitter em português, ele alterou um pouquinho a minha frase:
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.

Alterou sem minha autorização: não gostei.
E "esqueceu" de citar o autor... rs!
Mas esse é um "detalhe" que ele terá que resolver urgentemente.


UMA RESSALVA:

Eu sempre defendi Paulo Coelho. Primeiro, como compositor (junto com Raul Seixas), e depois, como escritor. Mesmo nos meios acadêmicos e literários, onde ele nunca foi bem-visto (nem benquisto), a minha voz era (e ainda é e acho que será sempre) uma voz discordante. Eu o considero, num certo sentido, o maior escritor brasileiro. Gosto de Machado, de Clarice, Guimarães Rosa, etc. Sabemos que Paulo não tem um grande domínio formal da língua portuguesa. Nem eu tenho. Estamos muito aquém de Fernando Pessoa ou de Eça de Queiroz, por exemplo. Mas Paulo Coelho, sem dúvida, é um grande escritor (do ponto de vista do mercado). Pois ele tem uma extraordinária capacidade de "enfeitiçar" os leitores. Tem um estilo que considero muito interessante (embora cometa plágios aos montes). Tem uma biografia encantadora. Foi maluco... viajou muito, arriscou tudo, saltou profundo. Como escritor, merece o meu respeito.

Repito: eu sempre defendi Paulo Coelho. Mas, no caso do poema Mude, Paulo Coelho não está sendo muito honesto comigo. Mesmo já sabendo que sou eu o autor do poema Mude, tem publicado esse poema em vários jornais do Brasil, sempre dizendo ter "esperança de encontrar o verdadeiro autor" (sic). Mais grave é o caso da minha frase em inglês [Change. But start slowly, because direction is more important than speed], que ele publicou no Twitter e no Facebook, onde esqueceu-se de citar o autor — dando a falsa impressão de que é dele. No Twitter em português, Paulo Coelho modificou um pouquinho a minha frase — mas o resultado ficou quase igual (vide acima). Reclamei, e ele parece não ter gostado: mandou-me cinco mensagens pelo Twitter, meio indignado. Não gostou da forma como eu reclamei. Mas, pergunto, sinceramente: eu deveria me calar, simplesmente? Isto não é plágio?!

Aguardo que ele tome providências e cite o meu nome como autor, em todas as publicações, especialmente no Twitter e Facebook — republicando-as com o mesmo destaque.

O caso do Mude é um pouco mais grave. Ele tem publicado esse meu poema com o título alterado para "Mudança", e com MUITAS (e desautorizadas) modificações no texto. Eu não autorizei ninguém (nem o Paulo Coelho) a mexer no meu poema Mude.


Resumindo:


1. Paulo Coelho publicou os versos iniciais do Mude em inglês no Twitter
2. Também no Twitter em português, alterando o original.
3. Idem no Facebook em inglês, tudo sem citar o autor.
4. Já havia publicado em português no seu blog Guerreiro da Luz em 2003.
5. Também no blog em inglês Warrior of the Light, alterando o original.
6. Em sua coluna no Diário de Pernambuco em 28.02.2011
7. No jornal O Estado do Paraná - em 20-02-2011.
8. Em sua coluna no site 40Graus.com.br
9. Na Gazeta Digital de Cuiabá em 22.03.2011
10. No jornal A Tribuna de Santos - AT Revista - em 27.03.2011
11. E em sua coluna no Diário do Nordeste - também em 27.03.2011
12. Na Rede Bom dia - em 11.04.2011
13. No Jornal de Santa Catarina - em 09.04.2011
14. No ParanáOnLine - em 27.05.2003 - sim, há QUASE OITO ANOS!!!
Aqui no ParanaOnline o próprio jornal fez, no fim do texto, uma citação correta de autoria.

15. Depois disso minha frase já é de Paulo Coelho em muitos sites e blogs mundo afora.
16. Em alguns blogs, o poema Mude inteiro também já é "de Paulo Coelho" (sic)...
17. Espalha-se a notícia de que Paulo é autor do Mude... rs!
18. No tumblr virou febre - tudo como se fosse de Paulo Coelho!
19. Até na Palestina!
20. Hungria.
21. Coreia..
etc.

No Twitter e no Facebook ele simplesmente assina, como se a frase fosse dele. Nos demais casos (blogs, jornais e revista) ele publica o poema todo (alterado, sem minha autorização, repito), e embora não cite o autor, diz ter "esperança de encontrar o verdadeiro autor". Já lhe mandei muitos e-mails (desde 2004) dizendo que sou o autor, mas ele e sua equipe ainda não se mostraram muito interessados em fazer as devidas correções. Até que, recentemente, pelo Twitter, ele falou comigo, conforme descrevi logo acima. Mas, como já disse, não tomou providências. Aliás, pelo contrário: fez mais meia dúzia de publicações idênticas em vários outros jornais!



Finalizo com uma pergunta séria e irônica:

Se é verdade que Paulo Coelho, desde 2003, tem interesse em conhecer o verdadeiro autor do poema Mude, será que nunca soube da existência e das funções do Google?


Paulo continua publicando o Mude (sem citar o autor), mesmo após nossos contatos por e-mail: O Girassol - Na coluna dele, dos dias 04 e 11 de maio no mesmo jornal.


Por que será que Paulo Coelho continua publicando esse texto?





De tanto que ele insiste, o poema Mude, na net, já começa a ser "dele" também. Veja:


Eis link de um dos blogs irresponsáveis que replicam acriticamente o texto, sem checar as fontes.






Apesar de eu já ter dito a Paulo Coelho, várias vezes, que não autorizo e não quero que ele publique meu poema Mude em suas colunas, ele não se emenda. Continua, insistente, publicando. Desta vez, publicou meu poema em sua coluna no jornal Clarin, da Argentina, sem sequer citar o título. Suplemento Vida, edição de 29 de maio 2011:




Sem citar o autor. E ainda me chama de "un autor sin nombre"...


Nessa publicação no Clarin, ele diz que o poema Mude é um texto "anônimo, porém conhecido". Paulo Coelho chega até a fazer-me um elogio, ainda que de forma indireta: "Um autor sem nome [que] enumera as transformações possíveis e desejáveis. Desde as minimalistas até as essenciais — que nos levam a ser quem somos." Também diz que eu posso ter escrito esse poema "num momento de inspiração, único e irrepetível" — mas suficiente para deixar nele a minha marca. Pena que não cita o autor, apesar de já saber que sou eu.


Mas o pior é que Paulo Coelho mexeu no meu poema. Adulterou o texto. Mudou a frase final, além de adulterar muitas outras partes também. Portou-se com deselegância, ou até mesmo com falta de ética. Falta de inspiração, talvez. Estou publicando logo abaixo essas "mudanças" que ele — sem minha autorização — fez no meu poema Mude. E eu digo, em princípio, que foi ele o autor de tais adulterações, posto que no Google só Paulo Coelho publica o texto nesse formato. Ninguém mais. Entretanto, se ele negar ser o autor de tal crime, terá que citar suas fontes. Exigirei isso por via judicial. Depois de quase oito anos tentando, em vão, resolver essa questão de forma amigavel, não me resta alternativa.


É uma vergonha!


Veja como Paulo Coelho adulterou meu poema, sem minha autorização:

Alterou o título imperativo: de Mude para Mudança.

Suprimiu "o novo amor, a nova vida" — e acrescentou "a nova posição".

Logo após eu ter dito: "Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes", Paulo Coelho (ou alguém em seu nome) acrescentou uma frase estranha: "Mesmo achando que a outra pessoa pode ficar assustada, sugira o que sempre sonhou fazer, na hora do sexo." Essa frase eu jamais colocaria nesse poema, pois, quando eu o escrevi, imaginei que seria lido também por crianças. Nesse caso, falar de sexo é uma estultice!

Quando eu disse: procure andar descalço alguns dias, ele acrescentou "— nem que seja em casa". (Eu jamais ressalvaria essa normalidade!)

Quando, jogando com as palavras, escrevi "leia outros livros, viva outros romances", ele acrescentou uma besteira: "— nem que seja em sua imaginação". Aqui ele parece querer "guiar" o leitor, como se este fosse incapaz de fazer ilações...

Quando eu digo "Tire uma tarde inteira para (...) ouvir o canto dos passarinhos", ele acrescenta "ou o ruído dos carros". Eu jamais diria isso! Tirar uma tarde inteira para ouvir ruido dos carros?! Que horror!

Ele suprimiu estes versos:
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.


Suprimiu também estes:
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.


Suprimiu isto:
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.


Suprimiu também esta frase que é muito significativa para o tema do poema:
Lembre-se de que a vida é uma só.

Também retirou este verso, que eu, como autor, considero fundamental:
Veja o mundo de outras perspectivas.

Além disso, mudou alguns outros versos de lugar, mexeu em outras coisas, acrescentou palavras, suprimiu outras tantas. Intrometeu-se!

E ainda acrescentou "e você está vivo" no último verso.
Ou seja, tirou o impacto que eu pretendi no final: Só o que está morto não muda!



Só me resta perguntar: — Com ordem de quem, Sr. Paulo Coelho?


Se, por acaso, não foi Paulo Coelho o autor de tais adulterações, terá que provar que não. E apontar quem foi — ou citar suas fontes. Pois ele é o único que publica esta "versão" do poema Mude na internet e em suas colunas em jornais e revistas (no Brasil e no exterior) — além de já tê-la publicado em seu blog e no próprio site, desde 2003!


Esta frase "Change.But start slowly, because direction is more important than speed" — que ele, plagiando-me, publicou como dele, é também um caso grave. Se dermos um Google nela, veremos milhares de citações, todas dando Paulo Coelho como autor. Pergunto: como agora corrigiremos isto?


Veja aqui o original do poema Mude, conforme publicado pela Pandabooks, e interpretado por Simone Spoladore no CD Filtro Solar, de Pedro Bial.

gerado numa suruba

As empregadas me chamavam para almoçar, aos gritos, e eu ouvia algo assim como: "Apolo, teu banquete já está servido como mereces. Vem e toma do vinho, e que este se faça acompanhar de tempo e de cor". Duas ou três belas ninfas nuas me serviam, eunucos abanavam plumas alvíssimas por sobre minha cabeça, a música ao fundo era doce, grega e suave. Eu jamais iria saber que, em verdade, as ninfas eram duas empregadas gordinhas, o cheiro de sabão e de pano molhado empestava o ar daquela cozinha enegrecida de fuligem, as plumas eram a vassoura que espirrava água suja nos meus pés, e a música saía de um velho radinho de pilhas que havia em cima do forno. Se eu soubesse que o meu banquete era um prato de sopa fria de macarrão cortado, teria certamente desistido de ser Deus.

Mas não.

8.4.11

deus

E que nós próprios guardemos o Deus na palma da nossa mão.

esta noite

Eis agora uma garrafa de vinho pela metade, uma rosa vermelha ansiosa por mim, três ou quatro velas azuis em castiçais de bronze espalhados pela sala, uma penumbra gostosa onde sombras delicadas dançam por si mesmas, o Bolero de Ravel crescendo em todos os sentidos no meu peito apaixonado, uma brisa noturna e encantada entrando pelas portas e janelas. Mistérios no ar, desejos, também. Às vezes, silêncio: e Ravel retorna, quase perfeito. Espero uma das outras minhas amadas. Se ela chegar, agradeço a Deus por ter chegado, e nos amaremos da forma mais gloriosa possível. Mas se não chegar, agradeço a Deus também por ela não ter vindo, e continuo a me amar da mesma forma. Pois hoje bastam-me as flores e a música, o vinho e as lembranças.

7.4.11

loucura

Embora seja insuportável para quem já perdeu a lucidez, a Loucura é a única salvação. Por isso recomendo aos "normais ainda saudáveis" que procurem o caminho poético da Loucura. Claro que não me refiro à loucura inconsciente, a TOC, transtorno bipolar, esquizofrenia, psicose, depressão... nada disso! Eu me refiro à loucura criativa de Osho, de Dali, de Cioran. Eu me refiro à loucura brilhante de Nietzsche, de Jesus e de Artaud; à loucura sagrada de Van Gogh, Henry Miller e Picasso. Eu me refiro à loucura que está ali — aqui — a quase 360 graus da sanidade. Eu me refiro à fuga da escuridão chamada Norma. À quebra radical das correntes opressoras. Ao abandono puro e simples do rebanho. Eu me refiro à Loucura luminosa dos criadores de mundos. À loucura dos amantes da liberdade absoluta. Esta, a Loucura que (me) (te) (nos) encanta!

5.4.11

agatha

Hoje à tarde, em São Paulo, encontrei uma menina belíssima, vestida de azul e branco e com um sorriso que Lewis Carroll fotografaria cento e oitenta e sete vezes. Ela dirigiu-se a mim, tocou insistentemente minha perna esquerda com seu dedinho indicador, e perguntou-me duas vezes: — Você é maiúco? O nome dela é Agatha, e disse-me que tem quatro aninhos. Inteligentíssima. Conversamos alguns minutos sobre Agatha Christie, e dei-lhe o meu cartão. Espero que ela o guarde por uns quinze anos... rs! Mas, por que será que ela me perguntou se eu era maiúco?

enquanto trabalho

Se enquanto trabalho não faço amor,
não escrevo poesias, não tomo sol nem vejo a lua;
Se enquanto trabalho não sorrio nem gargalho,
nem vejo os olhos amantes da minha mãe;

Se enquanto trabalho não ando descalço
em areias brancas, nem ouço o barulho do mar;
Se enquanto trabalho não abraço a Vida com tesão e alegria,
nem leio Henry Miller nem Neruda nem Jesus;
Se enquanto trabalho não mergulho fundo em minha alma;
Se enquanto trabalho não vejo filmes, não sinto perfume de lírios,
nem admiro alguma coisa genial de Michelangelo;

Se enquanto trabalho não escalo essas montanhas,
nem salto profundo, nem tomo vinho branco;
Se enquanto trabalho não medito, nem canto, nem ouço música,
nem como doce de abóbora com coco ralado,
nem respiro o sagrado ar da liberdade...

Se enquanto trabalho não sonho, não pinto, nem componho,
não desenho, nem danço, nem esculpo;
Se enquanto trabalho nem sequer me lembro
dos vinte poemas de amor e das canções desesperadas;
Se enquanto trabalho não parto melancias,
nem crio conceitos,
nem beijo mamilos de um grande amor...

Se enquanto trabalho não faço nada disso,
então só me resta perguntar:
O que é que estou fazendo aqui?

4.4.11

epitafio



Eu já perdi alguns pores de sol...
Mas agora nunca mais os perderei!

3.4.11

se eu ficar famoso

Se algum dia eu ficar famoso, meus blogs e livros serão valiosos e os leitores ficarão perplexos com tanta criatividade... Serei um best seller. Meus saltos profundos serão louvados. A defesa da liberdade virará moda. Meus biógrafos vão vibrar com “tão extrema sensibilidade”. Traduzido em várias línguas, escreverão teses sobre mim. A Faculdade de Letras da USP vai criar um curso sobre a literatura de Edson Marques. Mas se eu, ao contrário, acabar anônimo, casado, cheio de filhos, e pobre — ou abandonado num manicômio qualquer — todos que lerem estas mesmas linhas (que meu ego acha belíssimas), certamente pensarão: Nossa... como o coitado perdia tempo escrevendo essas bobagens...

Como se vê, tudo é relativo.

O texto acima foi escrito em 1998, e ainda tem alguma validade. Entretanto, como sou um garimpeiro de verbos incendiados, só gosta de me ler quem já tem fogo e não se espanta. Mas se eu primeiro não tornar as emoções em gostosura, não serei capaz de abrir meu coração para ser lido com ternura por você. Por isso, só me mostro inteiro após o meu encanto, e só te dou estas palavras depois que as refino. Aliás, se eu primeiro não polir as minhas pedras preciosas com amor e liberdade, como poderia eu querer trocá-las por essa tua tão amável luz diamante?

saudaveis enlouquecem

Os saudáveis enlouquecem. Os outros ficam por aí, parecendo normais.

eu e o poema

Além da vida e do amor, há um jogo que também me agrada: é aquele que acontece quando trago para a tela do computador uma poesia que já escrevi. E fico jogando com as palavras e o seu sentido. Passo a noite quase toda mexendo com elas, jogando com elas, acariciando-as, beijando-as, lambendo-lhes as partes mais íntimas, amando-as livremente. Mudo-lhes algum sentido, dou-lhes forma nova, pinto-as de azul. Enriqueço rimas em prol do amor, coloco consoantes de apoio, quebro a estrutura da frase, abandono as regras antigas, invento outras mais gostosas, escrevo, apago, escrevo, pinto, sinto e danço. Se por acaso vou ganhando, vibro e quero sempre ganhar mais. E se perco, a cada jogada sublime que faço, maior é o meu ânimo para jogar de novo, recuperar aquilo que perdi. De qualquer forma, passo a noite toda jogando, em todos os sentidos. Vem a madrugada e já começo a brilhar, metáfora de lux. Então, exaustos de tanto amor, os dois nos vencemos: o poema ganhou de mim, e eu com certeza o venci.

2.4.11

ajudem-me a ficar mais louco

Mais de oito da noite, uma cidade hospitaleira, mas num país estranho, e eu não sabia sequer onde dormir. Parecendo Zorba o Grego. Cinquenta dólares no bolso, um cartão quebrado e falando línguas que aqui não entendem. Essa assombrosa e radical instabilidade é fascinante — acreditem. Às vezes me canso um pouco dela, mas mesmo assim quero continuar com ela, porque sei que é disso que eu preciso para viver com emoção. E se algum dia eu mudar, meus amores, façam-me voltar a esse tipo de vida, façam com que eu me lembre do quanto isso tudo é muito bom. A normalidade é uma doença. Nunca mais serei normal. Tenho é que radicalizar ainda mais, com veemência, nesse caminho de perdição e gostosura. Sou movido a pecado, transgressões e alegria.

jogo pobre

As pressões vão ser sempre enormes para que nós continuemos a jogar o jogo pobre dos enquadrados. Querem sempre mais um personagem para compor o quadro dessa tristeza padronizada. Se pretendermos escapar, seremos malvistos, odiados até. Muitos tentam quebrar as regras, poucos conseguem, alguns outros as superam sem quebrá-las. Se quebrarmos as regras, a sociedade nos pune. Resta-nos então transformarmo-nos em loucos, saudáveis, plenos de paixão, marginais de um processo sufocante. Acontece que, para sermos marginais bem sucedidos, deveremos ser extremamente espertos e inteligentes — caso contrário, seremos esmagados.

vida louca

Se eu não levasse a vida louca que hoje levo, sobre o que então escreveria?

1.4.11

quem sou eu

— Quem sou eu? — você pode perguntar. Sou um poeta, um escritor de ideias. Bem-sucedido mas ainda não famoso. Escritor de ideias libertárias, eis o que sou, melhor dizendo. Um trapezista louco e cheio de paixão absoluta, dando um triplo salto vital no escuro azul profundo desse circo enorme chamado vida. Sem redes de proteção. E sem redes de proteção porque eu e Deus somos assim, oh! Aliás, sempre que ouço a voz Dele dizendo-me, carinhosamente, “Salte!” — eu salto. E parece que começo a ouvi-la de novo, insistente.