17.11.11

todos os prazeres

Todos os prazeres que tenho vivido nos últimos anos se devem ao meu irrestrito Amor pela Liberdade. Se devem à minha vontade absoluta de ser livre, e à extrema capacidade que tenho de satisfazê-la. Contudo, se eu não tivesse reagido a tempo, com vigorosa determinação, hoje provavelmente estaria casado com aquela tonta que me queria escravo. Ou estaria morto — o que é quase a mesma coisa. Queria, aquela infeliz, pôr grades no meu crepúsculo, e abri-las só quando ele fosse berrante, se a cor fosse correta, e se tivesse plumagem. Caso contrário, a chave da prisão continuaria em seu poder, pendurada numa correntinha de ouro. Ela dizia me amar, mas queria mesmo era ser minha dona. Naquilo que nós dois concordávamos, ela dizia que eu estava cem por cento certo. E naquilo que discordávamos, ela garantia que eu estava cem por cento errado! Como se vê, ela não tinha o menor respeito por mim — nem pela Lei das Probabilidades.


Essa pessoa a que me refiro no texto acima é personagem do meu livro Solidão a Mil — mas também pode ser real. Existem pessoas assim. No fundo, são autoritários que se cobrem com um manto de justificativas absurdas: dizem que têm "personalidade forte"... Ora, quem tem personalidade, mesmo, nunca reage dessa forma autoritária. Quem tem personalidade forte, realmente, aceita argumentos contrários, e se dispõe a questionar os próprios. Em nome da Lógica e do bom senso.