14.7.11

se mata para viver

Tem gente que se mata na busca por aquilo que chama de vida. Inventa despesas aos montes para só depois procurar as receitas escassas. Por isso, usa relógio de pulso, agenda, telefone, celular e barbantinho no dedo. Ama o despertador de plástico e o cartão de ponto como se amasse dois deuses simultâneos. Toma ônibus, avião, táxi, metrô, balsa, moto, lotação, elevador. E ainda sobe escadas, inclusive rolantes. Tudo com pressa. Às vezes brinca e namora, mas depois se casa e briga. Reclama. Fica. Descasa. Esgota, se cansa, se casa de novo, se arrepende, separa, quase pira. Anda, corre, se perde, grita, cai, sacode, suspira, levanta, quase nem respira. Trabalha, se ferra, atende, digita, suporta, agride, bajula, preenche. Rasteja, engole, se humilha, se afasta, se junta e separa de novo, adoece, empacota, vomita, remenda, cozinha, se amarra, se prende, se enrola, se curva, se apaga. Obedece. Madruga. E — curiosamente — ainda sobrevive...