28.10.09

Meu Baudelaire

CHARLES BAUDELAIRE


Este é o original em francês:

Enivrez-vous

Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous. Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."

(In Les petits poèmes en prose)


Embriague-se

É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser".

(Esta tradução é a que mais me agradou: é de Jorge Pontual.)



Há outras rolando na internet. Vejam estas:


"Embriaga-te
Devemos andar sempre bêbados.
É a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do tempo que te pesa sobre os ombros e te verga ao encontro da terra, deves embriagar-te sem cessar.
Com vinho, com poesia, ou com a virtude.
Escolhe tu, mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez atenuada, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala; pergunta-lhes que horas são: "São horas de te embriagares. Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem descanso. Como vinho, com Poesia. ou com a virtude".




Embriaga-te (Baudelaire)

Deve-se estar sempre bêbado. É a única questão.
A fim de não se sentir o fardo horrível do tempo,
que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra.

É preciso te embriagares sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto, mas embriaga-te.

E se alguma vez sobre os degraus de um palácio,
sobre a verde relva de uma vala,
na sombria solidão de teu quarto,
tu te encontrares com a embriaguez já minorada ou finda,

peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que voa,
a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme.

Pergunte que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro,
o relógio, te responderão.
É hora de se embriagar!!!

Para não ser como os escravos martirizados pelo tempo, embriaga-te.
Embriaga-te sem cessar.
De vinho, de poesia ou de virtude.
A teu gosto.











Esta é a minha versão, sem quebra de versos, como prefiro:

"E se alguma vez, nos degraus de um palácio, na relva verde de um campo florido ou na solidão do teu quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, às ondas, à estrela, aos pássaros, ao relógio, pergunte a tudo que flui, a tudo que geme, gira e rola, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte-lhes que horas são; e o vento, as ondas, a estrela, os pássaros, o relógio, hão de responder: É hora de embriagar-se... Para não seres mais um escravo do Tempo, embriaga-te; embriaga-te sem tréguas. Com vinho, poesia, virtude, ou mulher — tanto faz!"

Esta é a minha versão, exclusiva. Fiz a tradução em 2004, ao lado de um grande amor, tomando vinho Baron d´Arignac. Por isso saiu assim, bonita. O original não é tanto. Compare-a com os textos acima. Inverter a ordem, retirar as referências a fosso, fossa e tristeza, e acrescentar mulher no final, como fiz, deu vida nova ao poema!



Fonte do original francês AQUI..