26.11.08

dialogos interminaveis

DIÁLOGOS INTERMINÁVEIS

Depois de olhar-me nos olhos por talvez uns trinta segundos, em silêncio, ela segura-me as mãos, carinhosamente, e me atira uma pergunta formulada certamente com segundas intenções:
— Você me ama, de verdade?
Fico pensando. E, numa fração de segundo, repito mentalmente o que já lhe dissera ontem à noite, entre vinhos e luares, entre orgasmos e estrelas:

Amar é permitir sempre; amar é compreender sempre; amar é deixar que o outro vá — ou que fique, se assim o desejar; amar é respeitar todos os direitos humanos da pessoa amada; amar é jamais ter ciúmes; amar é não ter medo de perder. Amar é não forçar nada — nem sequer um beijo na boca; amar é não fazer perguntas desnecessárias ou indiscretas — muito menos na hora errada; amar é deixar fluir a emoção em todos os sentidos; é incentivar o vôo livre que o outro possa estar querendo, e às vezes até mesmo empurrá-lo com ternura para o abismo gostoso do desconhecido profundo. Amar é respeitar com devoção e aplaudir com entusiasmo o desejo de saltar que o outro às vezes tem. Amar é reconhecer afetuosamente o direito que o outro tem de fazer suas escolhas — mesmo que essas escolhas eventualmente me excluam.

Mas, neste momento, para encurtar a história, digo apenas:
— Te amo, é claro.
E salto da cama para buscar mais vinho.
"Porém, amo mais a liberdade" — penso eu, só pra mim, como se fosse um Henry Miller deslizando num lençol de cetim absoluto. Esperei que a resposta lhe bastasse, mas ela não desiste:
— Eu sou o maior amor da tua vida? — ela parece querer garantias impossíveis...
— Neste momento, sim — respondo, sinceramente.
— Você já disse isso para outras?
— ...


Tem diálogos que são intermináveis...